23-02-2007 9:32:00
Pássaros malditos para uns, sagrados para outros, os abutres em Bissau, capital da Guiné-Bissau, são conhecidos como a segunda maior empresa de limpeza da cidade, convivendo pacificamente com a população.
Atraídos pelo lixo acumulado em algumas zonas da cidade, os djagudi (em crioulo) comem tudo o que é podre, principalmente restos de alimentos, garantindo assim a limpeza de alguns locais.
Em Bissau, estão maioritariamente concentrados na zona da cantina militar, próximo da Praça dos Heróis Nacionais, antiga Praça do Império, e no matadouro, junto ao porto da cidade.
"As pessoas convivem pacificamente com os djagudi porque eles comem as coisas podres e previnem as doenças", explicou um cidadão guineense, depois de questionar, algo intrigado, qual o interesse dos jornalistas pelo abutres.
A par desta missão de limpeza, os djagudi estão ligados a práticas místicas, segundo os guineenses, que passam por só poisarem no poilão (mafumeira, árvore frondosa de onde se extrai uma espécie de sumaúma), sagrado para a etnia papel, que acredita que estas árvores e os abutres chegam a viver mais de 300 anos.
Além disso, os abutres acompanham os sacrifícios feitos pelos homens velhos da etnia papel a "irã", uma divindade, que tem o poder de curar ou de fazer mal.
Os sacrifícios de animais - galinhas, carneiros e porcos - a "irã" é feita nos poilão e o cheiro a sangue e carne morta, justifica, numa perspectiva ocidental, a presença dos abutres nessas árvores e não em outras.
Com 300 anos ou não e ligados ao misticismo da cultura africana, o certo é que os abutres contribuem decisivamente para a limpeza da cidade de Bissau, chegando onde a Câmara Municipal não consegue ainda garantir serviços.
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