Estado do Mundo 2005 : Metas do Milênio
Apresentação Carlos Lopes
Coordenador Residente do Sistema ONU no Brasil
"Congratulamos todos os esforços para disponibilizar informações que permitam uma melhor compreensão da nossa capacidade coletiva de cumprir as metas inerentes aos ODM"
Há 60 anos, criamos as Nações Unidas com o ambicioso propósito de preservar a paz, a liberdade e a segurança para todos. Recentemente, no seu relatório “ Um conceito mais amplo de liberdade ”, o Secretário Geral Kofi Annan demonstrou a inequívoca associação existente entre as questões de segurança, desenvolvimento e direitos humanos. O conceito de liberdade evoluiu, da mera restrição à capacidade de ir-e-vir, para a ausência de privações. Redefinimos o conceito de segurança para incorporar tanto a proteção quanto o empoderamento do indivíduo.
Hoje temos plena certeza de que sem segurança não pode haver desenvolvimento, e que sem desenvolvimento as pessoas não alcançam uma vida digna e o usufruto pleno dos direitos humanos. Porém, vivemos num mundo profunda e crescentemente inseguro. A cada dia milhares de homens, mulheres e crianças perdem uma luta inglória contra a indigência: não há conflito, guerra ou conflagração, não há desastre natural, que destrua vidas na mesma proporção em que a miséria o faz.
O principal desafio humano do século XXI é construir uma civilização baseada na solidariedade entre os povos, em que a responsabilidade pela construção do bem-estar comum seja compartilhada por todos. Um passo concreto ocorreu em setembro de 2000, quando 189 países se reuniram na Assembléia do Milênio das Nações Unidas, e nesse encontro definiram um conjunto de objetivos e metas mensuráveis a serem alcançados até 2015 - os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), destinados a combater a extrema pobreza e a melhorar as condições de saúde, educação, meio ambiente e igualdade entre as pessoas.
Decorridos 5 anos desde então, as evidências existentes – relatórios produzidos pela ONU, pelos seus países membros e por instituições renomadas como a WWI – mostram que temos pelo menos uma conquista extraordinária a comemorar: apesar do crescimento populacional da ordem de 800 milhões de pessoas entre 1990 e 2005, no mesmo período conseguimos reduzir em 300 milhões o número de pobres no mundo.
Trata-se de uma tremenda vitória sobre a privação humana. Por outro lado, a indigência tem se aprofundado, especialmente nos países da África Subsaariana, onde hoje existe um número maior de pessoas vivendo com menos de US$ 1 PPC por dia do que existia em 1990.
No Brasil, comemoramos também o sucesso do seu exemplar programa de prevenção e combate ao HIV/AIDS, graças ao qual o Brasil conseguiu controlar a pandemia e hoje engaja-se intensa cooperação sul-sul para compartilhar esta experiência exitosa. No entanto, a incidência de infecções pelo HIV cresce entre os mais pobres; a malária, a tuberculose, a hanseníase e outras doenças que afetam majoritariamente os mais humildes continuam endêmicas. Temos avançado na redução da mortalidade materna, mas em proporção menor do que a necessária. Buscamos a sustentabilidade enquanto danos ambientais continuam atrasando o progresso humano.
Cumprir a agenda social representada pelos ODM não será fácil. Enfrentamos grandes desafios, o principal dos quais reflete os limites impostos pela própria natureza: conforme a visão neo-ambientalista, a população humana tem crescido seu consumo mais rápido que a base de recursos naturais consegue se regenerar e/ou ampliar, reduzindo nossas chances de cumprir metas de sustentabilidade ambiental.
A Assembléia Geral de 2005 reafirmou os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, declarando que não pode haver – e não há - segurança ou liberdade num mundo onde há miséria, discriminação ou destruição de recursos naturais. Congratulamos todos os esforços para disponibilizar informações que permitam uma melhor compreensão da nossa capacidade coletiva de cumprir as metas inerentes aos ODM. Em especial, congratulamos o WorldWatch Institute por esta publicação tão importante, que contribui para promover uma visão de desenvolvimento sustentável e de bem estar humano baseada na principal agenda social da humanidade.
Carlos Lopes ,Coordenador Residente do sitema ONU no Brasil
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