Isabel Marisa Serafim, da Agência Lusa
Bissau, 10 Fev (Lusa) - As imagens paradisíacas do arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, escondem um mundo de traficantes de drogas, que, saídos do Brasil, utilizam aquele patrimônio da Unesco como ponto de apoio para levar cocaína à Europa.
A existência do corredor, conhecido por Brazilian Connection (rota brasileira) que começa no Brasil, atravessa ex-colônias portuguesas em África, como a Guiné-Bissau, e termina em Portugal ou na Espanha, é admitida pelas autoridades guineenses.
As características do arquipélago dos Bijagós - um conjunto de cerca de 90 ilhas, a maior parte das quais desertas, e menos de 1,5 mil habitantes - e a sua localização estratégica tornaram-no no mais apetecível destino das drogas provenientes da América do Sul, onde ficam armazenadas à espera de serem enviadas para a Europa.
Mas não são só estes atrativos contribuíram para que o arquipélago se tornasse parte de um esquema internacional do tráfico de drogal.
"A situação sócio-econômica da população associada à falta de capacidades institucionais e operacionais para combater o tráfico ilícito internacional e o crime organizado constituem fatores prováveis de atração de organizações e redes de crime organizado", diz um documento do Ministério da Justiça guineense.
A "total falta de equipamentos de investigação e operacionais" tem como resultado a "quase ausência de policiamento no território nacional e nas fronteiras", facilitando qualquer tipo de atividade ilícita, acrescenta o documento.
A mesma posição foi defendida pelo diretor-geral da polícia guineense, Orlando Silva, que disse que o combate ao tráfico de droga é "bastante complicado, porque além da falta de material, há também falta de homens qualificados".
Por outro lado, Orlando Silva salientou que "as ilhas dos Bijagós praticamente não fazem parte da Guiné-Bissau, porque não há um controle do Estado e os traficantes conhecem essas fraquezas e se instalam lá a seu bel-prazer ".
Esta falta de controle do Estado também está patente, segundo o documento do Ministério da Justiça, na facilidade em adquirir um passaporte guineense e na falta de segurança no aeroporto e dos portos do país.
O documento menciona ainda o aumento de grupos nigerianos de crime organizado na Guiné-Bissau, que costumam utilizar pessoas com malas para o transporte de droga.
As condições sócio-econômicas da população também são um atrativo para os traficantes de droga, com poder econômico para subornar pessoas que na maioria dos casos estão com meses de salários atrasados.
"Uma pessoa que não recebe há muitos meses pode cair na tentação de deixar passar droga por algum dinheiro. Esse é outro dos problemas que estamos enfrentando neste momento", disse o diretor-geral da polícia guineense.
Segundo fontes citadas pela agência de notícias da ONU (Irin), aquela situação está ameaçando a estabilidade do governo, porque os traficantes de droga estão conseguindo subornar funcionários de ministérios, militares e policias.
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