No dia 6 de Março de 2006 a Guiné-Bissau e a Madeira perderam um fiho que partilharam ao longo de muitos anos, o Frei Francisco Macedo, vulgo , Padre Macedo. Quantas vezes eu disse para mim mesmo "que pena os mais novos não terem tido o amparo moral de homens como o Padre Macedo, para se poderem formar alicerçados noutros valores...alimentando sonhos mais nobres..."
A minha geração e a geração que precedeu a minha tiveram esse raro privilégio de conviver com o bom homem que foi o Padre Macedo, um homem de bem, um cultor do espírito ( sageza e bondade).
Com ele conviveu e muito aprendeu toda a plêiade de distintos Guineenses que hoje nos fazem tanta falta por já não estarem entre nós.
Refiro-me à boa colheita de Guineenses eruditos e preparados para dialogar com o mundo, como a malograda "Aristocracia do Espírito" que a maldição do destino fez desaparecer da nossa terra, representada pelos defuntos Demóstenes , Armandinho Salvaterra, Mário Laurentino, José Carlos , Untchu , Chico Medina, etc, mas também por tantos outros felizmente ainda vivos , embora distantes, como o Daniel Turpin, o Adelino Baldé, o Marciano Goia, o Cesário Cassamá, o Chico Fós, etc., que corporizavam uma "Guinendade" voltada para o futuro, para a construção do Homem Novo, para a globalização de hábitos, costumes e culuras, para a emancipação do homem e dos povos africanos, para um mundo de valorização da excelência, da inteligência e da bondade.
Por todos e por cada um de nós uma só palavras me resta para o nosso querido Padre Macedo : Estamos-lhe Guineensemente gratos. O NOSSO MUITO OBRIGADO. E que a sua Alma Repouse na merecida Paz !
Realizou-se no passado dia 1 de Abril, uma homenagem póstuma ao Fr. Francisco Macedo, no Centro Cultural John dos Passos, na Ponta do Sol, Madeira.
Sendo o primeiro sacerdote franciscano natural da Ilha da Madeira, após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, pretendeu-se com esta homenagem dá-lo a conhecer na sua terra natal e perpetuar a sua memória.
Esta homenagem contou com o apoio da Câmara Municipal da Ponta do Sol e da Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Para além dos autarcas locais, marcou ainda presença o Bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria e o Provincial dos Franciscanos, Fr. Isidro Lamelas.
Do programa constou a abertura de uma Exposição Fotográfica; uma Conferência, proferida pelo Fr. Manuel Pereira Gonçalves, ofm; um Concerto pelo Grupo Coral e Instrumental da Casa do Povo e uma Eucaristia Solene, presidida pelo Provincial da Ordem dos Frades Menores em Portugal.
Fr. Macedo nasceu na Ponta do Sol a 2 de Abril de 1924. Por influência da avó paterna, terceira franciscana, entrou para a Ordem Franciscana em 1937 (Colégio de Montariol, Braga), tendo realizado a Profissão Solene em 1946, no Convento de Varatojo, e a Ordenação Sacerdotal em 1949, no Seminário da Luz, em Lisboa.
Após uma curta permanência na Casa de Sto. António à Sé, partiu para as missões da Guiné-Bissau em 1951. Como missionário distinguiu-se, sobretudo, como pedagogo e educador da juventude.
Sendo professor do Liceu Honório Barreto, em Bissau, recebeu a mais alta distinção do país pelos bons serviços prestados ao serviço da Educação: a condecoração com a Ordem de Instrução Pública, a 4 de Fevereiro de 1968, pelas mãos do então Presidente da República, Américo Tomás.
Em 1973 toma posse como Reitor do mesmo Liceu, na presença do então Governador da Guiné, General António Spínola, sendo reconduzido no cargo, em 1975, pelos novos dirigentes da Educação, após a independência do país.
No ano seguinte, convidado a trabalhar no Ministério da Educação, torna-se Assessor e Conselheiro do Ministro da Educação, chefiando o Gabinete de Planeamento e Estatística, departamento central do ministério.
Foi ainda Director do Liceu Diocesano João XXIII, desde 1983, por indicação do Bispo de Bissau, D. Septtimio Ferrazetta; Coadjutor da paróquia da Catedral e Superior Regional dos Franciscanos Portugueses na Guiné em vários mandatos.
Fr. Macedo dedicou-se ainda à promoção do cinema, da fotografia, do teatro e da dança. Contudo, foi na música e no canto que mais se fez sentir o seu pendor artístico. Criou o Orfeão de Bula, com cerca de 100 vozes, executando estes, canções em latim, a três e quatro vozes, na Catedral de Bissau, nos ofícios e cerimónias da Semana Santa.
Presidiu à Comissão Diocesana de reforma e adaptação do canto litúrgico, tendo musicado, em três livros, os salmos dominicais vertidos para o Crioulo. Foi ainda o responsável pela encomenda do órgão de tubos da Catedral, de fabrico alemão, em 1955, por ocasião da visita do Presidente da República, Higino Craveiro Lopes, tendo composto a música e letra de um hino, para esse efeito, que ficou célebre em toda a Guiné.
Deixando de trabalhar no Ministério da Educação da Guiné, em 1989, é condecorado pelo Governo do país que o louvou, oficialmente, pela Ordem nº 1/89, do Conselho de Ministros, reconhecendo-lhe as "excepcionais qualidades reveladas no exercício das diferentes funções que lhe foram confiadas no âmbito da educação, pelos seus dotes de inteligência, capacidade de trabalho, dedicação e espírito de sacrifício do que adveio uma profícua colaboração em prol do ensino, o que é grato destacar em sinal de reconhecimento do governo e do povo guineense".
Em 1997, regressa a Portugal, por motivos de saúde. Após algum tempo no Convento de Leiria, foi colocado no Convento de Nª. Sra. da Penha, no Funchal.
Foi Superior da Fraternidade, Assistente da União Missionara Franciscana (UMF), Capelão do Instituto Prisional da Cancela e, sobretudo, Confessor em muitas comunidades religiosas e paróquias. Faleceu a 6 de Março de 2006.
Frei Nélio Mendonça, ofm
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